Lisboa: o berço de Pessoa

Lisboa assiste, a 13 de Junho de 1888, ao nascimento de um dos seus maiores filhos pródigos. Considerado como uma das personalidades mais complexas e representativas de literatura europeia do século XX, Fernando António Nogueira Pessoa vem graciosamente ao mundo na Freguesia dos Mártires, no prédio nº4 do largo de São Carlos.
Em 1896, com apenas 8 anos de idade, Pessoa parte para Durban., na África do Sul, onde permanecerá até 1905, data do seu regresso a Lisboa.
Pessoa, aquando a sua chegada, ingressa na Faculdade de Letras num curso que frequentará apenas durante 2 anos e que nunca chegará a terminar. Os seus primeiros textos filosóficos datam deste período, altura em que estuda Shakespeare, Schopenhauer e Nietzsche.
Após esta tentativa frustrada de concluir o seu curso superior, Fernando Pessoa começa a trabalhar como correspondente comercial de diversas firmas da Baixa lisboeta.
Contudo, e embora tenha trabalhado sempre como correspondente comercial, é como ensaísta que primeiro se revela e só depois como poeta.
Retraído e com uma exagerada vocação para viver isolado, o próprio se define como um “histero-neurasténico com a predominância do elemento histérico na emoção e do elemento neurasténico na inteligência e na vontade”, vendo na literatura o refúgio dos seus ataques de histeria. O seu mundo é como que um labirinto de espelhos.
Pessoa é também um dos introdutores do Modernismo em Portugal e Lisboa será , deste modo, palco de uma revolução cultural.
Na realidade, foi em Lisboa que em 1913 se constituiu o núcleo do grupo modernista, do qual faziam também parte Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, António Ferro, Santa Rita Pintor, Luís Montalvor, entre outros.
Esta geração, nascida de um clima político e social agitado por golpes e contra-golpes tinha como missão revolucionar a arte portuguesa numa Europa em mudança.
O impacto desta revolução/evolução, apanágio de uma espécie de rebelião cultural e política que se manifesta na arte com os “Ismos” (grupo de correntes estéticas de vanguarda, do qual fazem parte o Surrealismo, o Dadaísmo e o Futurismo), e na política com a Grande Guerra de 1914 e com a Revolução Comunista de 1917; leva a que se procure um novo Conhecimento, um novo Ser, uma nova forma de estar na vida.
Todo este clima dá origem a um cerimonial de encontros organizados por este núcleo modernista nos cafés da Baixa lisboeta.
Passa a ser em locais como a Brasileira do Chiado, os Irmãos Unidos, o Martinho da Arcada, a cervejaria Jansen ou o café Montana, que se discutem as diversas correntes literárias e as novas teorias, se comentam novos e velhos escritos e escritores e se abordam os estilos e conceitos em voga na Europa da época.
É nesta mesma conjectura que Pessoa faz nascer os seus heterónimos (ao todo 17) dotando-os com uma individualidade e existência própria, como que vivendo muito para além de si.
A excentricidade que o caracteriza, aliada à inegável genialidade, reconhecida além-fronteiras, faz de Pessoa um dos símbolos da nossa Lisboa e a sua presença na Baixa lisboeta será eterna.

 

 

 
   
 
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