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Ai Timor, Timor!


   Tem já 23 anos, o sonho de um povo que pela força se tornou a 27.ª província Indonésia. As mortes começaram desde o primeiro dia e não pararam até hoje. Não é novidade para ninguém o ambiente de terror e subjugação que se vive em Timor e também não é difícil imaginar a alegria do povo Timorense depois de tanto sofrimento, alcançar o que hoje acreditamos ser a oportunidade de se tornar num território livre e democrático.

   O esforço diplomático exercido por Portugal junto a órgãos internacionais competentes, essencialmente a ONU, deram os seus primeiros frutos materiais no passado dia 5 de Maio, com a assinatura dos acordos entre Portugal e a Indonésia para a autodeterminação de Timor-Leste, subscrito por Ali Alatas e Jaime Gama (Ministros dos Negócios Estrangeiros) e sob supervisão do Secretário Geral das NU, Kofi Annan.

   Foi junto das NU, onde o próprio Jaime Gama, em 1983, iniciou os contactos com a Indonésia para resolver a questão da ocupação de Timor, que a ocupação de Timor já tinha sido considerada na Assembleia Geral das Nações Unidas, ilegal e ilegítima, mas que caíra na indiferença desses mesmos países, talvez porque olharam sempre a questão de Timor como uma questão interna da Indonésia e não como uma questão de direito internacional, onde o que está em causa é a violação dos Direitos do Homem, da Autodeterminação de um povo sem Liberdades nem Garantias.

   Anexado pela força de um país que é considerado o segundo milagre económico da Ásia, com as suas 13 000 ilhas, os seus 5000 quilómetros de comprimento, a sua ditadura militar e os seus 200 milhões de muçulmanos, Timor nada pode fazer a não ser resistir e sofrer amordaçado na esperança que Portugal (David) fizesse vergar a Indonésia (Golias) perante as NU.

   Trata-se na verdade de um gigante, pois o Banco Mundial afirma que a Indonésia será, em 2025, a 5.ª potência económica a seguir à China, Estados Unidos, Japão e Índia. À frente da Alemanha, Coreia, Tailândia e França.

   Este país, que apenas conhecemos pela ilha de Bali, com o seu turismo um pouco artificial, é o primeiro produtor mundial de estanho e gás natural e o décimo-quinto de petróleo. Segunda reserva florestal do mundo, melhor preservada que a do Brasil, Tailândia ou Birmânia, segundo exportador de borracha, terceiro de café, quarto de cacau (...)

   Assim sendo não é difícil imaginar o quanto foi dura a batalha de um país de 10 milhões de habitantes e com uma economia fraca mas em expansão, conseguir afirmar-se perante a força de interesses económicos geopolíticos que a Indonésia representa no mundo.

   Vencemos a batalha, e só depois de Agosto, saberemos se ganhamos a guerra.
Até lá esperemos que a nossa tão aplicada Diplomacia Portuguesa não adormeça à sombra desta tão desejada vitória, e se deixe enganar.

(Artigo escrito em Junho de 1999)

António Pedro de Freitas