Depois da vitória dos Aliados em 1945, Tito, líder da resistência Jugoslava contra o exército nazi, leva por diante de uma forma brilhante o seu projecto de reunificação do Estado Jugoslavo debaixo de uma severa ditadura comunista.Mundo
em
GuerraA herança do ódio
Jugoslávia
Durante 35 anos, Tito consegue com mão de ferro e debaixo de uma forte ditadura manter o equilíbrio entre as Repúblicas, fazendo com que esta região vivesse o maior período de estabilidade da sua história, mergulhando a questão das nacionalidades num sono profundo.
Em 1980 o velho Marechal morre e, pode dizer-se, com ele morre a Jugoslávia. Tal como estava previsto e, de acordo com a Constituição de 1974, sucede-lhe uma Presidência rotativa a ser assegurada por cada uma das Repúblicas pelo período de um ano, o que obviamente vai debilitar a já doente Jugoslávia.
As manifestações
e greves protestando pela queda abrupta do nível de vida provocada
pelo choque petrolífero de 1979 eram acompanhadas de profundas desconfianças
face aos diferentes estádios de desenvolvimento das Repúblicas,
cavando um fosso entre as regiões mais ricas (Eslovénia e
Croácia) e as outras.
Estas divisões
vieram favorecer o ressurgimento de manifestações nacionalistas
e conflitos étnicos, alimentados e enriquecidas pelos "media". Tal
como referia um antigo Embaixador em Belgrado, "através da televisão
o vírus do ódio inter-étnico alastrava-se na Jugoslávia
como uma epidemia". Toda uma geração de sérvios, croatas
e muçulmanos era encorajada pela televisão a odiar os seus
vizinhos.
A cisão dos Estados era já uma certeza, assim como o sonho da Sérvia em constituir a Grande Sérvia (onde estivesse um Sérvio seria território da Sérvia), expresso em 1986, quando a Academia de Ciências redigiu um documento ultra-nacionalista, o famoso Memorando (Nacertanije).
Em 1987,
chega ao poder como líder dos comunistas sérvios, Slobodan
Milosevic. Sob a bandeira de um nacionalismo feroz, Milosevic brinda os
seus apoiantes com um inflamado agitar do problema da província
autónoma do Kosovo, onde os sérvios constituíam uma
minoria face à maioria albanesa.
No 600º
aniversário da Batalha do Kosovo, na qual os sérvios liderados
pelo Rei Lazarus foram derrotados pelos Turcos Otomanos do Sultão
Murad I, Slobodan Milosevic apela uma vez mais aos sentimentos nacionalistas
com um bem cuidado discurso apresentado perante uma plateia de cerca de
um mi-lhão de pessoas. Os outros demagogos locais, como Fanjo Tudjman
da Croácia e Alija Izetbegovic da Bósnia, responderiam da
mesma forma.
Nesse mesmo ano de 1989 e face quer ao aumento das tensões entre sérvios e muçulmanos de origem Albanesa, quer ao receio de que pudesse ocorrer uma secessão, Milosevic revoga a autonomia do Kosovo e da Vojvodina, dando mais um passo para a constituição do seu maior projecto, a Grande Sérvia.
Os acontecimentos no Kosovo traziam já o prenúncio do desastre quando, em 1991, a maioria Albanesa votou no sentido de uma secessão da Sérvia e da Jugoslávia, expressando o desejo de uma fusão com a Albânia.
Em Abril de 1992 e, após o reconhecimento das quatro Repúblicas (Croácia, Eslovénia, Bósnia e Macedónia) pela Comunidade Internacional, Sérvia e Montenegro acordam na formação da República Federal da Jugoslávia considerando-a sucessora legal da antiga República Socialista Federal da Jugoslávia.
Em 24 de Maio de 1992, o escritor Ibrahim Rugova, líder da Liga Democrática do Kosovo (LDK) é eleito Presidente pela maioria albanesa, em eleições consideradas ilegais pelas autoridades de Belgrado. Defendendo a continuação na Jugoslávia embora com um estatuto de República, Rugova e o LDK seguem uma linha moderada, procurando evitar conflitos directos com os sérvios.
No entanto
e, em resposta aos contínuos apelos ao nacionalismo sérvio
e às constantes discriminações e perseguições
da Comunidade albanesa, é criado um "Governo sombra" albanês
ao qual apenas os albaneses respondiam e aumentava também o número
de militantes nas fileiras dos nacionalistas albaneses.
Em 1997
o Exército de Libertação do Kosovo, UCK, inicialmente
um pequeno grupo de militantes, inicia as suas actividades violentas matando
polícias sérvios e seus colaboradores, estabelecendo áreas
das quais os sérvios são completamente afastados. Era o momento
esperado por Milosevic.
Em resposta à campanha de guerrilha para a independência do UCK, Slobodan Milosevic lançou uma brutal ofensiva contra a maioria albanesa. Forças sérvias atacaram a população civil destruindo aldeias inteiras e expulsando centenas de milhares de Kosovares albaneses das suas casas.
Foi o espectro evidente de uma grave crise de refugiados e toda a mortandade praticada, que levou os países da NATO a ameaçar Milosevic com uma acção militar. Em Outubro de 1998 e, face a esta possibilidade, Milosevic concorda em retirar as suas tropas facilitando o retorno dos refugiados, aceita observadores civis e, assina com o enviado especial dos Estados Unidos Richard Holbrooke, um cessar-fogo.
O Ocidente
esperava ansiosamente que este cessar-fogo e o duro Inverno que se avizinhava,
permitisse gerar uma certa acalmia na conflitualidade, criando condições
para um Acordo de Paz entre sérvios e o UCK. Mas a morte de 45 civis
por forças sérvias na cidade de Racal, veio reabrir as feridas
ainda bem vivas, colocando um ponto final no acordo de Outubro.
É
sob a ameaça de ataques militares que, de 6 a 17 de Fevereiro de
1999, em Rambouillet, França, se sentam sérvios e albaneses
do Kosovo. E se inicialmente ambos recusavam liminarmente a assinatura
do acordo, em meados de Março, apenas os sérvios mantinham
essa recusa.
Apesar de uma última tentativa de Holbrooke, o Parlamento Sérvio rejeita de uma forma clara o acordo. O fracasso da diplomacia levou a que em 24 de Março de 1998, a NATO lançasse uma série de ataques aéreos com o objectivo de deter a ofensiva sérvia contra albaneses no Kosovo. As imagens de profundo horror que os "media" vão fazendo entrar em nossas casas, brutalmente como convém, mostram em todo o seu esplendor a herança de ódio dos Balcãs sempre favorável aos demagogos e aos pequenos Hitlers.
Infligindo
o mais terrível dos infortúnios, a perda da dignidade humana,
estes ditadores vão fazendo possível para que a "obrigação
de odiar", se perpetue nas próximas gerações.
Amilca S.
»Algumas das armas usadas na Guerra da Jugoslávia
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